Sunday, March 14, 2010

Meu Brasil sera com Z

Em abril faz um ano e seis meses que moro aqui nos EUA e percebi que eu nao penso em ingles ainda. As vezes ate comeco a rezar em ingles mas paro, pq nao parece que estou sendo sincera. Alias, toda vez que tento ser eu mesma em ingles ou espanhol eu me enrolo toda, pq nao ha traducao pra 32 anos de lingua portuguesa e cultura brasileira enredados na cabeca, no coracao e nas acoes de uma pessoa.
E doi, sabia? Doi me desapegar, escrever Brasil com Z. Me sinto traindo a Monteiro Lobato, Machado de Assis, Paulo Coelho e todos os autores a quem eu li desde os seis anos de idade, Pascoale Cipro Neto (todas minhas professoras de portugues, alias), os quatro anos de Magisterio e os quatro de Faculdade.
Nao aprendo efetivamente o ingles unicamente pra nao perder a seguranca que a lingua mae me traz. O preco que eu pago eh a superficialidade que passo em todo lugar que eu me apresento.
Fui muito complacente comigo mesma ate agora por minha falta de “pernas”, por minha ansiedade e por todas as questoes familiares que estavam consumindo minha energia mental. Esperei a adaptacao e a chegada do senso comum. Enfrentei a burocracia que me limitou a um ano de ocio, indo contra todos os meus principios. Porem, agora que jah tenho ate rodas motorizadas e jah chamo minha casa de lar, chegou a hora de por os pes numa canoa soh.
A meta eh pra ser atingida em um ano. Falar, escrever e interpretar ingles.
Minhas leituras vao ser unicamente em ingles. Nao soh livros, mas Blogs e jornais. Conversar com minha irman vai ser em ingles tambem. Escrever para meu pai em ingles.
Que mais? Musicas, Talking Radio e... Ah! Vou ter que dar um tempo longe das rodinhas puramente espanicas... porque volta e meia baixa o espirito da falta de educacao neles e comecam a falar em espanhol e os outros que nao acompanham que se danem... e lah se vai uma oportunidade de treinar ingles.
Voltar a estudar eh importante, pq jah vi que entrar por osmose nao vai acontecer. Todo mundo sabe que ninguem fala tudo o que pensa e eu nao quero mais ficar catando essas migalhas de vocabulario.
Nada de alcool nas reunioes sociais. Nao quero nem um minuto de inconsciencia alem do sono sagrado de todo dia.
E esse Blog?
Pois bem, como toda regra tem excecao (oes), aqui seguem:
- Escrever no blog, pode.
- Falar com meu pai ao telefone, pode. Nos momentos de desespero e crises de identidade pra me socorrer antes que fiquem sequelas.
- Ler jornal brasileiro pra nao ficar alienada, tambem pode.
Well, you do what you have to do. E boa sorte pra mim.

Wednesday, February 17, 2010

O dia em que ganhei pernas

Nao sei como comecou esse medo de dirigir. Veio depois que comecei a ter medo de altura… assim, de repente.
Quem diria... eu, menina-moleca, que escalava os morros lah do bairro, pilotava carrinho de roliman, subia e descia ladeiras de bicicleta, vivia perigosamente… Sim, inexplicavel.
O estranho foi que eu passei no teste pra motorista no Brasil. Coisa mais complicada que aqui porque tem que fazer baliza, trocar marcha… Mas aqui nao sei, deu medo.
O trafego pra mim se tornou gigante, confuso e selvagem. Era assim que eu via: semaforos pendurados como num varal, enfileirados, uns com setas, outros com tres luzes, outros com duas, te dando varias opcoes numa mesma avenida cheia de faixas lisas, pontilhadas, curvas e retas.
A situacao comecou a ficar insustentavel.
Aqui, se voce nao dirige, eh como se nao tivesse pernas... Onibus eh um sonho distante pra quem mora nos bairros e um luxo apenas pra quem mora no centro da cidade. Eu costumava ir ao Shopping Center num Circular com ar condicionado. Bacana, tudo organizado, com planilha, mapas por regioes, tabela de horarios, mas infelizmente nao iam muito longe e minha emancipacao ficou resumida a isso: Ir sozinha ao Shopping Center. Nao era emocionante? E como! Quando mudei pro bairro minha alegria de pobre acabou rapido…
Pois bem, decidi comecar a tomar aulas na Mercedes do Daniel. Mas ela estava toda desalinhada, assim como eu, e nao foi uma boa dupla. Mesmo porque o Daniel nao tem paciencia nem pra fritar um ovo, imagina pra ensinar uma pessoa com panico a dirigir? Entao ele passou a bola pro Primo: uma pessoa doce, paciente, centrada… Fui melhor, mas continuava com panico, entao fiz por bem dipensar o Primo das aulas. Por mais boa vontade que ele tivesse, nao tinha obrigacao de entender meus bloqueios.
Quando eu entrava no carro, jah ia tremendo. As vezes comecava a dar risada sem parar ou chorar , entao eu pagava o mico de sair do carro no primeiro sinal vermelho e mudar pro banco do co-piloto. Um pouco mais seguro somente, porque eu tambem desenvolvera um panico de banco do passageiro...
Comecei a tomar Florais de Bach pra ajudar. Uma dia eu estava tomando as gotinhas no banheiro depois de escovar os dentes e a faxineira me perguntou o que era aquilo. Entao eu expliquei que era porque eu tinha medo de dirigir. Foi dificil entender a expressao que ela fez: surpresa, pena, duvida, solidariedade… Ela nao sabia o que falar, soh me desejou boa sorte . Quando eu contei a historia pro Primo ele me disse que aqui na Florida seria melhor eu falar que tinha um problema mental do que dizer que nao dirigia. Ai eu comecei a me esconder , inventar historias, justificar minhas caronas, so pra nao ter que enfrentar essa expressao de “como-assim?”, os risos e as piadinhas das pessoas.
Cheguei a pensar em voltar pro Brasil, pra seguranca dos onibus, dos taxis e das calcadas com pedestres!
Entao, contratei um professor. Seu nome era Jorge. Cobrava a pequena fortuna de US$ 45.00 por hora/ aula, mas ele era especialista nesses casos e pra mim ja era uma questao de honra aprender a dirigir.
Com algumas aulas me senti mais segura. O Jorge era piadista, me ensinou truques, me deixou mais tranquila. Entao comecou a entrar um feixe de luz naquela selva tao cerrada.
Marcamos o teste e eu fui, toda segura de mim, conquistar minha liberdade.
Entao aconteceu o que eu menos esperava: derrubei um cone na hora de estacionar e nao contente em ter derrubado na ida, derrubei na volta tambem. Uma vergonha. O rapaz que estava aplicando o teste ficou em silencio ate o final do percurso. Nao sei por que, mas eu tinha a esperanca de que ele falasse: “Ela derrubou o cone, mas eu vou passa-la mesmo assim.” Obvio que nao fez isso e ainda disse que eu nao esperei tres segundos no sinal de PARE! Como assim? Ninguem nunca me falou desses tres segundos! Ora, que injustica!
Fiquei ARRASADA! O Jorge soh balancava a cabeca e eu soh tinha vontade de chorar. Em casa liguei pro Primo, pro Daniel e pra minha irman, com ares de “tudo bem, shit happens”, mas por dentro me sentia menor que um liliputiano…
O que eu faria agora? O Departamento de Licencas nao disponibiliza carros pros testes, o primo trocou o carro automatico dele por um manual, a Mercedes quebrou, meus amigos do Banco soh tinham carros manuais e eu nao sabia mais dirigir carros manuais! Pode parecer soberba da minha parte, mas a coisa mais dificil eh alguem ter carro manual por aqui. Por que justamente as pessoas mais proximas de mim optaram por eles? Sem tempo pra comecar tudo de novo porque minha Learner’s License ia expirar em um mes. Nem o Jorge queria me deixar usar o carro dele, dizia que nao fazia sentido eu paga-lo por aula uma vez que eu jah aprendera a dirigir!
Estava amuada.
Entao tive a brilhante ideia de usar o carro da minha irman e ir lah pra cidade dela fazer o teste.
Fui pra Coconut Creek uns tres finais de semana pra treinar no carro dela. Cinco horas de trem pra ir e cinco pra voltar. Minha sorte foi que em janeiro e fevereiro tinham alguns feriados.
Nao contei pra ninguem pra evitar mais pressao. Se eu nao passasse seria como se nada tivesse acontecido. Minha irman era a unica que sabia e teve uma paciencia de Jo com minha mente orientada para detalhes e minhas perguntas dissecadoras a respeito de limites de velocidade.
Uma hora parei pra pensar que isso tudo era coisa de louco. Quantos mecanismos que eu inventara apenas por uma Licenca, a qual tanta gente tirava em um mes, com 16 anos, num piscar de olhos! Comecei a procurar historias de pessoas na mesma situacao e lembrei que eu jah tinha sido tao forte e corajosa pra tantas outras coisas nos meus 32 anos de vida que aprendi a ter paciencia comigo mesma.
Um belo dia, percebi que nao tremia, que eu estava respirando e que eu estava dirigindo! Eu nao tinha mais medo!
Pedi uma segunda-feira de folga. Todo mundo achou que era soh por causa do aniversario da minha irman, mas nao era soh por isso. Eu ia sim, fazer outro teste. Chegando lah eu nao tinha levado meu Social Security e nao pude fazer nada, mas eu jah nao me importava. Eu sabia que eu estava pronta. Entao marquei outro, pro dia 15, que era feriado soh pra Bancos e Cortes, mas o Departamento de Licencas abria.
Fui com a Virna, minha parcerinha. Vi varios adolescentes com mae e pai, imigrantes, gente que passou, gente que nao passou, e eu soh imaginava como seria na minha vez.
E minha vez foi assim: esqueci de dar a maioria das setas (nervosa!) e com isso perdi 22 pontos ,mas nao derrubei nenhum cone, fiz as outras manobras perfeitamente e PASSEI!
Corri em direcao da minha irman com o papel: ” HAHAHAHAHA! PASSEI!!!”. Agora tinha pernas. Tinha honra. Fazia parte do grupo. E nunca, nunca teria que fazer esse teste novamente.
Passei mensagem pros amigos, que haviam me dado tanto apoio, aulas e que ainda darao carona por um tempinho ate eu comprar o meu carrinho. E eles vibraram comigo. Fui comemorar no Hooters com o Steven e o Primo, que disse que estava surpreso, e que se ele soubesse, nao ia me deixar ir. Claro! Ele ainda nao me viu dirigir depois que perdi o medo ! HAHAHA
O bom eh que agora nao vou mais acordar as 4 horas da manhan pensando nesse teste, como nos ultimos meses. Agora, ganhei pernas e daqui pra frente o assunto vai ser outro: ganhar rodas!

Wednesday, August 5, 2009

Sete



E nao pareceu que tivessem se passado 7 Natais, 7 aniversarios, 7 dias dos pais... Foi com se ha 7 dias atras dissemos: "Vou ali, crescer e jah volto, tah?". E enfim, quando nos encontramos, eramos irmans de novo. Voce pequena, eu menor do que voce se lembrava, e no meu coracao um amor maior que o mundo, incondicional.
E lah estava voce, forte e fragil, ciumenta, que se importa, que come porque gosta e nao porque precisa. Com uma historia de um amigo que perdeu e de outros mil que ganhou. Sendo psicologa, crianca e fazendo planos mirabolantes. Correndo atras de alguma coisa importante, emprestando livros e esvaziando o armario: "Quer?? Eh a sua cara!"
Vou cuidar de voce, irman pequena.
Um beijo, ate sempre!

Wednesday, May 20, 2009

"CULPANDO OS OUTROS"

Tirei esse texto da AT Revista.
Achei bem interessantes as palavras do "Guru". Eu nunca tinha sido muito fã do Paulo Coelho, mas depois que eu li de novo o Alquimista (em inglês, pra treinar), vi a estória de outra forma. Bom, a primeira vez que li tinha 14 anos, e acho que não peguei o espírito da coisa... Aí depois li "Brida", achei meio forte, pois falava muito sobre sexo... e eu tinha só 14 anos...
Mas o fato é que agora, depois dos 30, me apeguei ao "Bruxo".
Acho que ele tem uma visão meio bíblica das coisas... sei lá.
Qual seja o motivo que ele tem pra fazer isso: marketing, bruxaria, satisfação pessoal; nao importa muito agora. O que importa é que estou gostando dos insights gerados.
Esse eu acho que é pra dar insight em muita gente:
"Todos nós já escutamos nossa mãe dizendo a nosso respeito: 'meu filho fez isso porque perdeu a cabeça, mas no fundo, é uma pessoa boa'.
Uma coisa é que nos culpemos pelos erros de atos impensados. A culpa não nos leva a lugar nenhum. Outra coisa, porém, é nos perdoar por tudo o que fazemos. Agindo assim, nunca seremos capazes de corrigir nosso caminho. Existe o bom senso, e devemos julgar o resultado de nossas atitudes e não as intenções que tivemos o realizá-las. No fundo, todo mundo é bom, mas isso não interessa.
Disse Jesus: 'É pelos frutos que se conhece a árvore.'
Diz um velho provérbio árabe: 'Deus julga a árvore por seus frutos, e não por suas raízes.'"
(PS: coloquei todos os acentos onde eu me lembrei...)

Wednesday, May 13, 2009

"Vou cantar-te nos meus versos..."


Jah tem algumas semanas que cheguei aqui no Brasil.

Pausa para um breve esclarecimento: O negocio eh que esse texto agora pode ter acentos porque o teclado eh brasileiro, mas estou tao viciada em escrever assim, que nao vou coloca-los pra nao correr o risco de esquecer algum.

Quando cheguei, parecia que nao tinha ficado tanto tempo longe, por que meu Pais me abraçou sem diferenças. Digo, os dias estavam mais claros e o ceu mais azul que da ultima vez (tirando uma nuvem negra e gigante que cobriu a cidade de Santos por uns 30 minutos e fez chover granizo), e os dias mais quentes tambem. Quase inverno e o sol brilhava (e continua!) como na Primavera! Eu jah tinha ate esquecido como a gente sua por aqui. Ah sim! Nos EUA o sol torra, aqui soh mela...

Mas vou falar dessa minha Patria querida, dos meus amigos queridos, da facilidade de se fazer exames pelo convenio medico, da possibilidade de fazer comentarios nonsense com a Caixa da Padaria sem ser olhado de forma estranha... (será que soh eu faço comentarios com a Caixa da Padaria?). Qdo a gente vive num pais a vida toda, eh acometido pela inercia. Sair de casa no piloto automatico, assistir TV, trabalhar, ir a academia... tudo muito simples. As palavras saem e entram com facilidade e as vezes nem passam pelo cerebro, saem do coraçao ou do estomago, direto pra boca e lah vai... Mas depois que voce passa um tempo sentindo falta dessa facilidade e tem isso de volta, saboreia cada "Bom dia", "Obrigada", "O dia esta quente hoje neh?" (essa pode ser pra Caixa da Padaria). Poder falar "neh!" jah eh uma delicia.

Jah no primeiro dia fui dançar um samba. Que maravilha! Eu estava quase indo dar um beijo no vocalista da banda, que parecia que tinha lido meus pensamentos!

E eles estavam lah. Os amigos, de sempre, de trabalho, de balada, de fofoca, de horas alegres e dificeis. Meus queridos!

Então começou a via sacra: exames, consultas, aparelho dentario, massagem, comprar calcinhas (porque aqueles "fraldoes" americanos nao me convenceram) e visitar a familia.

Ate agora deu tudo certo. Mas ainda nao acabou, vou ficar mais um tempo por aqui. Que seja eterno enquanto dure...

Saturday, March 21, 2009

Dona Doracy

Minha voh, cafune, picadinho, gelatina de chocolate, Richard Clayderman, livros, Aguas de Lindoia, buraco, Natal, blusa de tirar fotografia.
A casa estava sempre quentinha, mais colorida.
Quando ela nao estava ficava tudo frio, preto e branco, a geladeira vazia.
Eh assim que me lembro.

Saturday, February 28, 2009

Brief profile

O que me define pode ser traduzido como: vontade de formar uma familia. Uma que seja inteira, evolutiva, alegre e com saude.
Ah como eu queria ganhar dinheiro por escrever. Mas dinheiro pra mim nao eh poder, eh seguranca.
Escrever eh libertacao, eh compartilhar minha vida tao grande que nao cabe em mim, ainda tao pequenininha...
Acho tambem que amor nao eh um sentimento, mas uma habilidade. Porque pessoas nao perdem sentimento, perdem habilidade, por falta de treino.
Gosto da casa cheia. De vez em quando, porque tambem tenho meus "momentos eremita".
Esse destino comum, esse que "a sociedade impoe" (meio cliche nao?) nao eh mais valoroso que aquele que temos dentro de nos mesmos. Aquele que nasce conosco. Seja definido pelos astros, ou nao, eh aquele que nos mantem aqui.
Eu acredito em Deus como sendo minha propria consciencia, porque um dia Ele falou comigo, mas eu nao pude identificar se era consciencia ou luz Divina.
Alem disso eu tenho uma questao que demorou 30 anos pra ser descoberta: os nervos. Eu nao choro porque estou triste, pois a tristeza nao existe. Descobri que quando eu choro eh para lavar, para limpar.
Tambem creio que ficar soh eh a propria escravidao, como dizia o cantor.
Num Big Brother eu seria eliminada na primeira semana. Por que nao sei jogar e acho que minha missao eh aprender.
Por enquanto sou eu mesma...